terça-feira, setembro 05, 2006

Espaço...


Há coisas que passam depressa. Diria até demasiado depressa. O tempo, a felicidade, até a vida.
Mas há coisas que perduram.
A imagem com que ficam de nós, a nossa honra, a marca do nosso carácter, o espaço que vamos deixando construído, preenchido no coração dos outros. O nosso lugar na história. Na história de alguém.
A marca do nosso caminho, as nossas pegadas.
Tento fazer o bem, dia-a-dia. Ainda que por vezes de forma errada, lesiva.
E por isso peço desculpa a quem magoo. Com a minha ausência, com o meu distanciamento, com a minha ingenuidade, com a minha ignorância. E com a minha crueldade.
Crueldade despropositada.

Durmo tranquilo por saber que há quem se deite em paz.
Também eu me deito em paz.
Ainda que hajam demasiadas coisas que teimam em atormentar-me.

(...)

Faço uma pequena pausa do real.
De escrever o concreto*. Literalmente o concreto.
E paro para escrever o abstracto.
Que de abstracto apenas tem o facto de se conter sempre entre linhas, de permanecer sempre na obscuridade, de se agarrar visceralmente ao sentido vago e beliscar sempre a índole dúbia que qualquer evento pode encerrar.
Qualquer evento e qualquer personalidade. Complexa.
Simplesmente complexa.



(*s. m., Brasil,
mistura de água, cimento, areia e pedra britada para construção de alvenaria)

(fotografia: recorte óbvio da mesma foto/panorama que compõe o topo de página;
panorama de Lisboa. Autoria de Oma Klonkmann;
música: "Secret Form of Time", retirado do álbum "Bells Brake Their Towers", dos Bright.)