quinta-feira, janeiro 05, 2006

Edifício

Museu "de Young", São Francisco, EUA, 2004
Autor: Herzog & de Meuron



Autoria dos arquitectos suiços Herzog & de Meuron, este edifício é uma notável obra de arquitectura da qual me lembrei imediatamente quando fiz os posts anteriores. Sobretudo porque fiz uma referência a uma personagem que acho que se enquadraria muito bem nesta paisagem.
A subtileza do Museu de Young revela-se gradualmente. Em jeito camaleónico, a estrutura de cobre tranforma-se constantemente. Quando se instala o nevoeiro e o sol se mostra intermitente a “pele” da fachada muda frequentemente de transparente a opaca, variando entre tons laranja e castanhos. E para além desta flutuação na luz atmosférica, a fachada vai registando os efeitos da exposição ao elementos, tornando-se num castanho acobreado, pontuado por tons pretos e verdes.
A estrutura foi concebida de forma a permitir que a água da chuva se fosse acomodando em certas zonas, atacando o metal e explorando as suas inerentes tendências de se oxidar.
Os arquitectos deixaram em todos os alçados algumas áreas com o revestimento de cobre tratado de forma suave ou polida, outras irregulares e marteladas, outras com aberturas e ainda com perfurações ou combinações das várias, maximizando dessa forma a oxidação e promovendo-a de forma poética e irregular. Prevê-se assim que a capa oxidada, que levará cerca de uma década a formar-se por completo não terá um aspecto uniforme como encontramos por exemplo na Estátua da Liberdade em Nova York, mas sim sombras esverdeadas polvilhadas de pretos e castanhos que se integrarão nas árvores que envolvem o local.





No dia de inauguração, a chuva , o sal e o nevoeiro já haviam conferido à fachada subtis tons púrpura, sépia e ocre. Expondo o edifício desta maneira fazendo da natureza um elemento chave, a equipa de arquitectos não só eleva a beleza do local – o centro do Parque Golden Gate em São Francisco -, como também faz referência (e reverência) à história do museu de Young, erigido em 1894 e devastado em 1906 por um terramoto. Construído novamente, sucumbiu mais uma vez num terramoto em 1989.
Uma vez que a reconstrução com as necessárias adaptações anti-sismos ficava estimada em mais de 70 milhões de dólares decidiu-se demolir o que restava e fazer novo museu, orçamentado em 200 milhões de dólares e financiado unicamente por entidades privadas.
Herzog & de Meuron arranjaram como solução para o programa de 28.000 m2 uma única estrutura que abraçasse o local albergando as diversas colecções, desde arte Nativo-Americana, Africana, a arte Contemporânea. Um organismo de partes interligadas, um esquema unificado sob uma cobertura de cobre, três bandas de galerias e espaço de circulação que se desenvolvem lado a lado, ora convergendo, ora divergindo entre si.
O arranjo elimina assim hierarquias entre galerias uma vez que as intersecções eliminam a continuidade forçada e permitem que se veja uma colecção sem ter que se atravessar outra.
No entanto uma questão prevalecia: como criar um edifício com uma área tão extensa sem que se torne um maciço intrusivo no parque?
A resposta residia em parte na camuflagem. O revestimento, dissolvendo-se visualmente na luz e na sombra, imita os raios de sol filtrados pela copa das árvores – um efeito que foi conseguido através do recurso de imagens abstractas, fotografias pixelizadas das árvores que envolvem o museu projectadas sobre o cobre e que determinaram o local das perfurações (cada um dos 7200 painéis, modelados por computador é único).
Mestres em desmaterializar fachadas, Herzog & de Meuron não deixaram os seus créditos por mãos alheias: também deixaram em São Francisco a sua marca, sobretudo na torre de nove pisos, a zona educacional e de observação.
A geometria torcida acentua esse efeito. Crescendo a partir de uma base rectangular e tornando-se num paralelograma não-ortogonal (alinhado com a malha da cidade de São Francisco) a forma escultural vai-se transformando à medida que se desenvolve, estreitando-se e quase desparecendo.
A torre é também uma evocação ao anterior museu, ainda que não de forma literal ou estilística.



Uma das formas de atrair público foi tornar gratuita a visita a grande parte do museu, cerca de um terço: o átrio, a galeria das crianças, o café, a loja do museu, o piso de observação da torre, e a exibição de murais que pertenciam à anterior biblioteca principal da cidade (mostrarei aqui no blog noutra ocasião a nova biblioteca principal).
Vincadamente não-hierárquico e não-ditatorial, o interior do museu torna-se dinâmico desde a entrada, energizando a viagem pelo seu interior através de apelativos pontos de fuga, onde as bandas convergem. A iluminação interior, colocada perpendicularmente às linhas que convergem no horizonte, intensifica essa convergência, tornando o espaço fluído e sedutor.