quarta-feira, março 26, 2008

Estímulo




Ah, Avareza, o estímulo da indústria*...





Imagem: "Avaritia", de Bruegel;
*citação de David Hume;
panorama: (no topo do site)
"...". autor, Geno;



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terça-feira, março 25, 2008

American Gangster


Bom filme, grandes actores, Russel Crowe e Denzel Washington (palavras para quê), Josh Brolin (quem não se lembra dele numa série de "cowboys" que dava há uns - largos - anos? Ok. Talvez nem todos vissem Tv nos finais de 80, inícios de 90 como eu via. Era um imberbe e a minha vida nocturna era um copo de leite antes de me deitar... "No Country for Old Men/Este País Não É Para Velhos" diz-vos alguma coisa?), e até um actor que já tinha antecedentes de andar a traficar droga (no pequeno ecrã, não na vida real... O calculista "Stringer Bell" da série "The Wire". "A" série.), de seu nome Idris Elba, dirigidos por um grande realizador, Riddley Scott, cenários que ficam bem em qualquer filme (New York, Harlem, New Jersey...) e boa música.
Do filme, ou da história propriamente dita não preciso dizer grande coisa. Basta irem ao imdb.com.
Dos actores e realizador muito menos. Galardoados diversas vezes.
Já da música...
Sons de Johnie Cash, John Lennon e Paul Mccartney (na voz de Lowell Fulsion), John Lee Hooker, The Rascals, Louis Armstrong, Hank Shocklee, Public Enemy.
E Anthony Hamilton.
Os sons são (muito) bons mas fundem-se no filme.
Hamilton destaca-se.
Quando ouvi uma música (nova, que agora sei chamar-se "Stone Cold") numa determinada cena pensei logo "este é o Anthony Hamilton". Se já estava entusiasmado com o filme fiquei mais ainda depois de ouvi-lo na Banda sonora. Quando na cena seguinte vejo-o a participar no filme (a cantar no clube nocturno onde se desenrolava a acção) entrei em delírio!
É bom saber que um artista como o Anthony Hamilton tem mais algum tempo de antena. A ajudá-lo a alcançar a dimensão que ele merece. E ainda por cima num filme que atinge uma audiência tão abrangente quanto este. E que certamente ainda não conhece o seu som.
Um filme tão violento a destacar um músico que passa uma mensagem tão distante dessa violência. Aleluia. Já estava farto do binómio filme violento/música-a-glorificar-a-violência.
Assim fica bem melhor.



Imagem: "Harlem", retirado de streetsblog.org, site sobre NY que aconselho. Faz parte do New York City Streets Renaissance, uma iniciativa sobre alternativas ao automóvel para NY, e aborda questões urbanas, planeamento, urbanismo, cidadania, questões sociais, sobretudo centradas nos transportes. Em suma: o tema central desta posta deveria o streetsblog/NYCSR e os problemas que discute...mas não são só os americanos que gostam de dar destaque às notícias sem grande importância e pôr em rodapé aquelas que realmente deveriam preocupar-nos... (olha...outra posta que valia a pena...);
panorama: (no topo do site)
"...". autor, Geno;


Anthony Hamilton - American Gangster Soundtrack - "Do You Feel Me"



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quinta-feira, março 20, 2008

Thoughts


But where is the opposite shore? How can they go back if they have lost all notion of the direction they came from? How can they go back if there are no longer any points of reference, if everything is black and white, an endlessly repeating landscape (…).

In spite of all the evidence that returning is no longer an option, they frequently think about it, even the most lucid -- or rather, least delirious. Fear, however, has unhinged them and they all begin to mumble unintelligible prayers that none of them really knows.
They all know that those prayers have no meaningful content and, even if they wanted to they would be unable to communicate their final coherent thought.

Deep down they are still conscious of the fact that they are only human.



Imagem: autoria, Geno;
Texto: mash-up feito por mim sobre texto de Fernando Sorrentino)
panorama: (no topo do site)
"...". autor, Geno;


CéU - La Prómesse du Brésil - "Véu da Noite"

quarta-feira, março 19, 2008

Silence



-I dreamt of you tonight.
-I know. I was there. (...)
-You were? I ... In my dream...My name was not my own. And so was yours. We were called --- and ---.
Why were you calling me ---?
-So henceforth shall you always be called. You must forget, too, my earthly name, and call me ---.
-(...).
-Tell me: was I mourned?
-To the last hour, a cloud of sorrow hung over your household.
To the last hour, when you passed into Night through the Grave.
-I expected no less.
-I wouldn't expect it to be so...painful. Not that...But you know...
(She smiles).
Mourning it's just not enough anymore. It keeps getting harder everytime. Its becoming unbearable...
-Its enough...
-Its mad. A mad horrible silence that keeps growing. A dark void that keeps engulfing whatever strengths I still have left...
-Its enough, I tell you.
-This pain...what is it?
-Its just life.
Seek relief in simple memory.
It's all I'll ever ask of you.
My child.


Imagem: autoria, Geno;
Texto: mash-up "legível" feito por mim (contém alguns excertos de Voltaire)
panorama: (no topo do site)
"...". autor, Geno;


Steve Jansen - Slope - "Life Moves On"

terça-feira, março 18, 2008

Sonho





O homem que trabalha nem sempre é um homem esclarecido.
Este homem tinha uma função simples. Montar barreiras. Barreiras que impedissem aquela criatura de invadir o espaço que era dos homens, pois apenas os homens se sentiam no direito de invadir o espaço do adversário. Essa crença dava-lhe uma falsa noção de segurança, de controlo sobre a criatura. Sentia-se dominador, como só os homens gostam de se sentir.

Aquela criatura fascinava-o, como a tantos homens, de uma forma que ele não sabia explicar. Sem compreender não havia como.
Sabia apenas que tinha este trabalho mas não sabia bem porquê.
A sua função era perigosa, quase suicida. Isso ele sabia também. E se não sabia, devia saber.
Quem no seu perfeito juízo se dedicaria a tal tarefa?
Mas a sua tarefa, a tal que era simples, era também pobremente executada. A montagem das barreiras deixava evidente uma de duas coisas: ou o homem que as montava era inexperiente ou queria simplesmente desafiar a criatura.
Em todo o caso o homem podia ser apenas mais um louco.
Enloquecia-o, sim, aquela paixão pelo risco, sentia-se assaltado pela euforia que o perigo lhe trazia. O pânico instalava-se e o homem esfregava nervosamente o polegar nos outros dedos enquanto aguardava.

Solidário com a sua espera, estava aquele lugar.
A cidade, calma como nenhuma cidade consegue ser, deixava no ar o silvo do vento nas árvores, o crepitar das espigas que se tocavam. A luz do entardecer dourava as searas que cercavam o casario, e estas iam fazendo a vontade do vento, ondulando ao seu sabor. O cenário parecia o de um qualquer duelo ao entardecer, desses que povoavam o imaginário daquele homem, que os havia visto vezes sem conta na televisão quando era criança.
Mas este não se tratava de um simples acertar de contas, de uma vingança cega ou simplesmente de repôr a honra de alguma família caída em desgraça. E não se esperava que no final caminhasse em direcção ao pôr-do-sol.
Os motivos que se escondiam atrás deste eminente confronto eram outros.
Denunciavam a tentação pelo desafio, pelo risco que se sobrepunha ao conforto daquilo que já se conhece. Daquilo que já se tem.
Motivava-o a reacção da criatura assim que se visse livre. Ainda que ele apenas pudesse adivinhar a sua reacção. Sabia-a imprevisível, mas pensava nela.
Ele apenas podia pensar nela. Na inesperada reacção. E esperá-la...
Mordia-lhe as ideias aquela forma estranha com que a criatura o deixava encurralado. Logo a ele que tinha por função encurralar!
No fundo, toda aquela situação era perversa. Ao invés de se limitar a despertar-lhe os desejos um por um, despertava-os a todos de uma só vez...sufocando-os de seguida.
O homem deparou-se assombrado pelos seus desejos. E só aí percebeu.
Não há satisfação no desejo. Daí a inevitabilidade do confronto.

O homem ofegava na face do perigo. E na face do perigo apenas se lembrava de uma frase que lhe vinha ao pensamento: “os olhos não vêem coisas mas sim figuras de coisas que significam outras coisas”.
Ansiava ver naquela criatura outra coisa que não fosse o seu fim.
Acreditava que não podia ser apenas esse o seu significado. Que inglório fim, perecer às mãos do desejo.
E somente quando a indomável criatura se revelou o homem percebeu o seu verdadeiro significado.

Afinal, o trabalho daquele homem não era montar barreiras.
Era sabotá-las.




Imagem: autoria, Geno;
panorama: (no topo do site)
"...". autor, Geno;


Lizz Wright - Dreaming Wide Awake - "Dreaming Wide Awake"

segunda-feira, março 03, 2008

Sem Legendas



O homem lia o seu sonho, narrado por si.
Não eram suas, as palavras. Não podiam ser.
Ele não falava assim.
As memórias, sim, eram suas. Os sítios, lembrava-se deles sem os ter conhecido.
Os sons tocava-os de cor sem nunca os ter ouvido.
As cores, vibrantes, estavam lá todas.
"Sonhos coloridos", pensou.
O homem lia o seu sonho.

Apenas não o controlava.



[Imagem: autoria, Geno;
panorama: (no topo do site)
"...". autor, Geno;


Colleen - Les Ondes Silencieuses - "Sun Against My Eyes"